terça-feira, 20 de junho de 2023

Diretora da Anvisa espera injeção contra HIV disponível para a população até final do ano

Com aval para registro já concedido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o primeiro remédio injetável para prevenção do HIV pode estar disponível nas farmácias neste ano, indica a diretora Meiruze Freitas, responsável pela área que gerencia medicamentos.

Com nome comercial de Apretude, a injeção Cabotegravir funciona como uma profilaxia pré-exposição ao vírus (PrEP), até então disponível no Brasil apenas por meio de comprimidos diários, distribuídos gratuitamente no SUS desde 2017. A nova injeção funciona inicialmente em duas aplicações mensais. Depois, a cada dois meses.

É a primeira vez que temos um medicamento como o PrEP na forma injetável e também prolongada, e isso favorece a adesão, especialmente para as pessoas que têm dificuldades de tomar os comprimidos diários. Em uma analogia, eu diria que esse medicamento funciona como um anticoncepcional. Há anticoncepcionais diários, mensais, anuais. É a mesma lógica. Acredito que possa estar nas farmácias ou até mesmo no SUS até o final do ano — disse Freitas ao GLOBO.

O registro, contudo, não é suficiente para que a injeção seja vendida nas farmácias e oferecida no sistema público. O produto agora deve passar por uma avaliação de preços, feita pela própria Anvisa e um grupo interministerial. Para chegar no SUS, ainda há uma segunda avaliação, esta de responsabilidade da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias (Conitec), do Ministério da Saúde.

O registro é uma etapa importante, mas para ter o medicamento comercializado no Brasil, a empresa precisa estabelecer o preço de venda, que é avaliado primeiro pela Anvisa e depois pela Câmara de Medicamentos — explica a diretora.

Ela defende que o produto tenha um acesso equânime para toda a população, mas admite que o medicamento pode ter um custo elevado no início.

Ainda que seja uma injeção preventiva, o Cabotegravir não é considerado uma vacina para o HIV. Uma vacina induz respostas do sistema imunológico por meio da produção de anticorpos ou de células de defesa com fragmentos enfraquecidos ou inativados de vírus e bactérias — dessa forma, prepara o organismo para combater a doença no momento em que o contato ocorre, de forma duradoura.

No caso da injeção que funciona como PrEP, é necessário que a pessoa receba a aplicação em um esquema contínuo para que o antiviral permaneça em circulação no organismo. Dessa forma, caso haja interrupção do uso da PrEP, não há mais garantia de proteção.

As vacinas têm origem biológica e estimulam o corpo a produzir anticorpos contra os vírus. Já a injeção fica na nossa corrente sanguínea durante o uso — ou pelo comprimido diário ou pela forma injetável de 60 dias. O PrEP impossibilita que o vírus do HIV entre na célula e se multiplique quando a pessoa tem contato com ele, mas isso só ocorre enquanto existir a concentração do medicamento na corrente sanguínea — explica Freitas.

O Cabotegravir também foi aprovado em 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que recomenda o uso do medicamento para controlar a contaminação do vírus do HIV. Não há contraindicações para o uso.

No SUS, os comprimidos diários de PrEP são destinados a grupos de maior risco de exposição ao HIV, como homens que fazem sexo com outros homens, profissionais do sexo e pessoas que não vivem com o vírus, mas estão em um relacionamento em que a outra pessoa tem HIV.

O HIV ainda causa grandes danos, não tem cura e não há vacina. A PrEP é uma importante ação contra o vírus, mas devemos manter a mensagem do uso de outras ferramentas de prevenção, especialmente preservativos, para proteger também contra outras DSTs — lembra a diretora da Anvisa.

O Globo

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