Um homem com a arma exposta na cintura entra no supermercado. Está bem vestido e tem um olhar arrogante. É um dono do mundo saído do armário na era Bolsonaro. As pessoas o olham com desconfiança, mas a segurança o ignora. No caixa, na fila, outro homem está armado. No estacionamento, pelo menos meia dúzia porta arma. É uma cena que está se tornando comum e que aponta para um cenário de guerra que começa a ser montado e em algum momento deve explodir.
É fato que policiais podem portar armas, assim como promotores e o pessoal do judiciário, mas para os demais civis há restrições legais, mesmo que a facilidade para adquirir armamento tenha sido relaxada. Como não há fiscalização, quem compra um revólver faz questão de exibi-lo: é a sensação de poder que arma confere, mas que está a cada dia dividindo a sociedade.
Não por acaso, os ‘acidentes’ com o manuseio de armas de fogo dentro de casa estão se multiplicando, assim com os homicídios.
Em Manaus, entre janeiro e junho deste ano 480 pessoas foram assassinadas. Assaltos também cresceram. Até maio foram 2.346.
Mas ainda vivemos no melhor dos mundos, considerado o desastre que esse armamento sem controle em poder de civis poderá provocar até outubro.
Nada que não possa ser evitado ou minimizado. Mas é preciso vontade politica - que parece não existir - e compromisso de fato com a segurança de cidadãos que não aderiram ao armamento fácil - que vem sendo vergonhosamente negligenciado.
Por Raimundo de Holanda