Recentes investigações revelaram que crianças e adolescentes estão sendo atraídos para práticas de automutilação em servidores privados da plataforma Discord, com a promessa de pagamento em dinheiro. De acordo com um estudo conduzido pelas pesquisadoras Letícia Oliveira e Tatiana Azevedo, os participantes de grupos conhecidos como “panelas” são incentivados a escrever nomes ou símbolos em seus corpos com objetos pontiagudos em troca de valores que variam entre R$ 30 e R$ 200. A investigação da Polícia Federal, em conjunto com denúncias de organizações como a Safernet, revela que esse tipo de conteúdo está em ascensão, com um aumento alarmante de 172,5% nas queixas relacionadas ao Discord entre janeiro e março de 2025.
Esses grupos, muitas vezes liderados por indivíduos que oferecem recompensas financeiras por atos violentos e humilhantes, utilizam a gíria “lulz” (uma adaptação de “lol”, “rindo alto”) para descrever as ações danosas que promovem. O conteúdo gerado por esses jovens inclui não apenas automutilação, mas também abuso sexual virtual e outras torturas, como consumo de substâncias prejudiciais e espancamentos. As transações financeiras para esses abusos são realizadas via métodos como Pix e criptomoedas, com os preços variando dependendo da área do corpo onde as marcas são feitas.
A plataforma Discord afirmou ter uma política de “tolerância zero” para atividades ilegais, mas, segundo as autoridades, o problema vai além da moderação de plataformas como o Discord. O delegado Flávio Rolim, chefe da Urcod (Unidade de Repressão a Crimes Cibernéticos de Ódio), alerta que o grande desafio é a combinação de fatores como o crescimento de grupos extremistas online e o abandono de jovens no ambiente digital. A Polícia Federal e outras forças de segurança pública, como o Noad (Núcleo de Observação e Análise Digital) de São Paulo, têm intensificado as investigações, já realizando operações para prender envolvidos nesse tipo de crime.