segunda-feira, 2 de junho de 2025

“Não sou bandido”: Agricultor preso por matar cães em defesa do rebanho relata sofrimento com ataques constantes

 “Eu não sou bandido, nem perigoso, nem muito menos maltrato animais.” Foi com essa frase que o agricultor Hildo Severiano da Silva, de 59 anos, iniciou a conversa com nossa equipe na tarde desta sexta-feira (30), em sua modesta residência localizada no assentamento Laje do Meio, na Chapada do Apodi. Hildo acabava de ser liberado da prisão, onde passou a noite após ser detido sob a acusação de maus-tratos a animais e porte ilegal de arma de fogo.

O caso

Na última quinta-feira (29), Hildo foi preso após matar uma cadela e ferir outro cão que estariam atacando seu rebanho. Segundo ele, a atitude foi tomada em um momento de desespero, ao flagrar os animais dilacerando seus cabritos. A situação reacendeu um problema antigo enfrentado por agricultores da região: os constantes ataques de cães, muitos sem donos, aos rebanhos locais.

Perdas acumuladas

Com um rebanho de cerca de 180 caprinos, Hildo conta que já perdeu mais de 100 animais nos últimos anos, resultando em um prejuízo estimado em R$ 20 mil apenas no último ano. “Só ontem foram 12 cabritos mortos. Eles mataram oito e levaram mais três. Hoje, meu irmão encontrou um deles morto, com marcas de mordidas no pescoço”, lamentou.

Ataques recorrentes e abandono de cães

Segundo o agricultor, os ataques vêm se tornando cada vez mais frequentes. Muitos dos cães seriam deixados por caçadores na região ao perceberem que os animais não servem para a caça. “Eles ficam com fome e acabam atacando as cabras. A maioria não tem dono. A gente tenta espantar com fogos, mas não tem funcionado”, relatou.

O momento do ataque

Hildo relatou que perdeu o controle ao ver os cães atacando seus cabritos: “Eu perdi a cabeça. Peguei a espingarda que eu tinha aqui só pra me proteger e atirei. Matei uma cachorra, feri outro, e o terceiro fugiu”.

O uso da arma levou à denúncia anônima, culminando em sua prisão. A espingarda, que não possuía registro, foi apreendida. Ele passou a noite no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Apodi, sendo liberado na manhã seguinte após audiência de custódia. Agora, responde pelas acusações em liberdade.

“Quem vai pagar o meu prejuízo?”

Durante a entrevista, Hildo reconheceu que errou ao atirar nos cães, mas questiona o que poderia ter feito diante do prejuízo contínuo. “Eu tô pagando pelo cachorro que matei, mas quem vai pagar pelos meus cabritos? E os próximos que forem mortos, como vai ser?”, disse, com a voz embargada.

Prova de afeto

Para reforçar que nunca maltratou animais, Hildo nos levou até seu lote, onde bastou um grito para que suas cabras corressem em sua direção. “Se eu maltratasse, vocês acham que elas vinham pra cima de mim assim?”, perguntou. No quintal, encontramos também galinhas, árvores frutíferas e mais de 10 gatos, muitos deles abandonados, sendo cuidados por ele — incluindo uma gata com filhotes recém-nascidos.

Um agricultor solitário e trabalhador

Morando sozinho e sem família constituída, Hildo é conhecido por vizinhos como um homem trabalhador e pacato. “Eu nunca tinha pisado numa delegacia. Passar a noite preso? Não desejo isso a ninguém”, desabafou.

O caso expõe um dilema vivido por muitos agricultores da zona rural de Apodi e outras regiões: como proteger seus animais diante da ameaça constante de ataques, sem ferir a legislação que protege os cães e outros animais domésticos. 

Apodi Agora

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