sexta-feira, 29 de agosto de 2025

'Guerra' de facções e corrupção policial: o que está por trás do assassinato de advogado em Fortaleza

Foto: Reprodução
Videomonitoramento mostrou à Polícia Civil que o carro do advogado, um Peugeot 208 azul, foi perseguido por um Fiat Mobi branco, utilizado pelos criminosos
Dois clientes do advogado também foram baleados, na ação criminosa. Um deles morreu e o outro, sobreviveu. A dupla teria sido solta após pagamento de propina a policiais militares, segundo a investigação
A investigação dos assassinatos do advogado Paulo Marcelo Silva Freire, de 46 anos, e do cliente dele, Ítalo Jardel Menezes da Silva, 27, no bairro João XXIII, em Fortaleza, aponta para um crime cometido no contexto da guerra entre facções criminosas. Em paralelo, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública e Sistema Penitenciário do Ceará (CGD) irá investigar denúncias de corrupção e violência policial relacionadas ao caso.

O único suspeito detido pelo duplo homicídio foi Luiz Henrique Galdino Braga, 27, que teve a prisão em flagrante convertida em preventiva pela Justiça Estadual e já foi indiciado pela Polícia Civil do Ceará (PCCE) por homicídio qualificado (por recurso que dificultou a defesa da vítima).

Conforme documentos obtidos pelo Diário do Nordeste, os levantamentos policiais apontam que Luiz Henrique é membro da facção criminosa cearense Guardiões do Estado (GDE), enquanto Ítalo Jardel e uma vítima sobrevivente do ataque criminoso seriam membros da facção carioca Comando Vermelho (CV).

O preso e os dois jovens baleados seriam rivais na disputa por tráfico de drogas, na Vila Rosângela, no bairro Mondubim, em Fortaleza, segundo testemunhas. Ítalo e o amigo estavam no carro do advogado Paulo Marcelo Silva Freire, que teria sido baleado e morto por engano, apontam as investigações.

A 166ª Promotoria de Justiça de Fortaleza, que atua na 1ª Vara do Júri de Fortaleza, pediu ao juiz pelo declínio de competência de julgar o processo criminal para a 6ª Vara do Júri - especializada em julgar homicídios em contexto de conflito entre facções criminosas.

"Ocorre, Excelência, que seguindo nos atos investigatórios a Autoridade Policial obteve provas que apontam que os autores do crime são vinculados à organização criminosa Guardiões do Estado-GDE e praticaram o crime como ataque a integrante da facção rival Comando Vermelho-CV que se encontrava no carro do advogado", argumentou a promotora de Justiça Márcia Lopes Pereira, em um parecer.
A defesa do suspeito preso e representantes das outras partes não foram localizados para comentar a investigação. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

Violência e corrupção policial
Antes do duplo homicídio, Ítalo Jardel Menezes da Silva e o amigo baleado foram abordados e agredidos por policiais militares, na Vila Rosângela, segundo testemunhas. A dupla teria sido liberada mediante o pagamento de propina, após a chegada do advogado Paulo Marcelo Silva Freire.

No último dia 22 de agosto, a 6ª Delegacia do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) encaminhou cópias do inquérito para o delegado-geral da Polícia Civil com o pedido de encaminhamento para a CGD e para o Comando da Polícia Militar do Ceará (PMCE), para serem investigadas as denúncias.

A Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos da Segurança Pública e Sistema Penitenciário informou ao Diário do Nordeste, no dia 18 de agosto deste ano, que já "investiga a ocorrência no âmbito administrativo".

A Polícia Civil recebeu relatos de que uma composição da Força Tática da PMCE realizou uma abordagem a Ítalo Jardel, na rua, e o levou para dentro de uma casa, onde estaria o outro jovem, na noite de 14 de agosto deste ano. Os policiais militares teriam perguntado por uma arma de fogo e, poucos minutos depois, encontraram um revólver na residência.

O jovem abordado pelos policiais e sobrevivente da ação criminosa ocorrida na sequência - de identidade preservada - afirmou à Polícia Civil que estava na casa da namorada, que não tinha conhecimento de arma de fogo no local e que foi agredido pelos PMs.

Ao saber da prisão dos jovens, a mãe de Ítalo acionou o advogado Paulo Marcelo, que, em poucos minutos, chegou ao imóvel. Segundo a vítima sobrevivente, os policiais militares pediram R$ 10 mil ao advogado para liberar a dupla, mas as partes entraram em um acordo pelo pagamento de R$ 5 mil.

Paulo, então, decidiu tirar os dois jovens da região, e o trio saiu no carro do advogado. Foi quando, segundo as investigações, integrantes da facção Guardiões do Estado decidiram perseguir o veículo para atacar os rivais.

O carro do advogado Paulo Marcelo Freire foi interceptado e baleado por diversas vezes, na Travessa Rio de Janeiro com Rua Cacilda Becker, no bairro João XXIII. Paulo sofreu 7 tiros e morreu no local. Ítalo foi levado ao hospital Instituto Doutor José Frota (IJF) em estado grave e morreu nas horas seguintes. Já o terceiro homem, que também foi baleado, conseguiu sair do carro com vida e pedir ajuda a moradores da região.

Diário do Nordeste

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