Com a entrada em vigor da taxação sobre produtos brasileiros exportados para os Estados Unidos, nesta quarta-feira (6), a manga e peixes vermelhos podem ficar mais baratos no Ceará. Especialistas avaliam que o excesso de estoque pode levar à redução dos preços.
No entanto, essa grande oferta ainda não é percebida porque muitas empresas exportadoras estão correndo contra o tempo para enviar o máximo possível antes da elevação da taxa. Por outro lado, a carne e o café podem não apresentar a redução de preços esperada.
O economista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Ricardo Coimbra, observa que houve um volume significativo de exportações nos últimos dias devido à ameaça do tarifaço.
Ainda vale lembrar que existe um período para aplicação da taxação antiga, ou seja, os 10% praticados até agora, chamado, no documento assinado por Donald Trump, de período em trânsito, que tem validade até 5 de outubro. Após essa data, a dinâmica do mercado poderá sofrer alterações.
"É interessante observar que ainda existem diversas situações. No caso do café e da carne, há uma tendência de inclusão na lista de produtos que estão na exceção (ou seja, que não serão tarifados em 50%)", lembra.
Preço dos peixes vermelhos pode cair no Ceará
A avaliação do setor de pescados indica que os preços dos peixes vermelhos, como pargo e cioba, podem cair no Ceará, enquanto os valores da lagosta e do atum devem permanecer estáveis.
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Frio e Pesca do Ceará (Sindfrio), Cadu Villaça, será difícil para o segmento escapar da "lei da oferta e da procura".
"No mercado local, o tarifaço deve impactar menos a lagosta, e algo vai refletir nos atuns, mas nos vermelhos é diretamente na veia", projeta. Segundo Villaça, esse tipo de pescado é bastante consumido na alta gastronomia da região Sudeste do Brasil.
Assim, haverá maior oferta do produto para essa região e possibilidade de negociação de preços.
Já o primeiro-secretário e responsável pelos assuntos de comércio exterior do Sindfrio, Paulo Gonçalves, afirma que, neste momento, o setor está realizando levantamento das cargas que estão no Porto do Pecém e iniciando a verificação do que já está em processamento nas indústrias.
"Estamos negociando com os clientes para definir o preço que será possível trabalhar e aguardando o retorno dos governos Federal e Estadual quanto a medidas para mitigar o impacto ao setor produtivo", afirmou.
Questionado sobre a possibilidade de esses produtos ficarem mais baratos para o consumidor brasileiro, ele reforça que essa "não é uma questão de ficar mais barato para o brasileiro."
"Agora, trata-se de saber se será possível para o pescador continuar pescando por um preço mais baixo. Se o trabalho continua viável. Afinal, todas as cadeias de produção têm custos para produzir; nesse caso, é o quanto o produtor artesanal consegue suportar um preço mais baixo", disse.
Preço da manga também pode cair
A Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frutas e Derivados (Abrafrutas) declarou que a manga seria a fruta mais impactada pelo tarifaço neste momento, por conta da safra, que ocorre entre agosto e dezembro. Questionada sobre o preço do item no mercado interno, a entidade não respondeu.
Para o economista Alex Araújo, a manga pode aparecer com uma oferta maior no mercado interno, "pois a exportação para o mercado americano se tornou muito arriscada, por conta das incertezas sobre as tarifas".
Assim, ampliar a oferta no mercado interno e reduzir os preços pode ser uma estratégia adotada a curto prazo.
Por outro lado, pondera, apostas inusitadas podem auxiliar no consumo e na venda de frutas, como ocorreu com o morango, e usa o exemplo de um empresário local que está explorando a venda da manga cortada em tiras, com limão, pimenta e sal.
"Se virar um meme, pode vir a salvar o excesso de oferta com a safra que começa agora", destaca. Ainda sobre as frutas, ele aponta que existe uma safra em curso, então o produtor terá poucas opções de negociação.
"As alternativas são buscar outros mercados (alternativos ao norte-americano), mas isso só deve gerar resultados no médio prazo, ou buscar beneficiamento, fazendo polpa, doces, sorvetes, entre outros", comenta.
Só no ano passado, o Brasil exportou 37 mil toneladas de manga, o que gerou US$ 46 milhões. Em carga, a segunda fruta mais exportada para os EUA foi a uva, com 14 mil toneladas (US$ 41,5 milhões), seguida da melancia, com 2,3 mil toneladas e US$ 1,2 milhão, e do melão (1,5 mil toneladas), representando US$ 800 mil.
Com informações do Diário do Nordeste