segunda-feira, 6 de outubro de 2025

Reconhecimento da profissão de trancista deve gerar emprego e renda para mulheres no Ceará

Foto: Fabiane de Paula
Dedos ágeis entrelaçam mechas de cabelo. Rapidamente, elas se transformam em caminhos de tranças, meticulosamente desenhadas da raiz à ponta das madeixas. Ao fundo, a voz serena entoa cânticos africanos, que curiosamente podem soar nostálgicos mesmo à primeira escuta. O processo é finalizado com o Khunigira, mantra que, com leves apertos na cabeça trançada, busca afastar as dores características do vai e vem dos fios. 

É assim que Rita José Timba, mais conhecida como Negra Moz, exerce, aos 39 anos, o ofício que carrega desde os 14: ser trancista. A felicidade estampada no riso largo e a familiaridade com a atividade disfarçam a complexidade do trabalho que, nas mãos da moçambicana, parece brincadeira de criança.

Mas não é. Ser trancista é profissão de adulto e, pela primeira vez no Brasil, teve a relevância econômica, social e cultural reconhecida com a criação de uma Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) específica para o ofício, tradicionalmente exercido por mulheres negras.

A medida do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ocorreu em junho deste ano.

Para Negra, o trabalho de trancista veio como uma oportunidade de liberdade financeira. Filha única, nascida e crescida em Moçambique, desde pequena aprendeu com a mãe o valor da autonomia feminina e o poder da autodefesa.

Assim, além de trabalhar com agricultura, logo começou a trançar os cabelos de outras mulheres, inicialmente em troca de insumos como açúcar e sabão.

“Eu assistia minhas manas mais velhas trançando, aí aprendi vendo. Dificilmente tu vais encontrar uma mulher na África que não sabe fazer absolutamente nenhuma trança. É muito cultural”, relembra.

Depois de ter o primeiro salão na terra natal, em 2006, e dar aula para as primas manterem o negócio, este ano Negra partiu para o próximo desafio: viver da própria arte em Fortaleza.

Atualmente, a também gestora cultural e multiartista concilia oficinas e apresentações performáticas com o trabalho de trancista nas praias e praças alencarinas.

Com informações do Diário do Nordeste

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