domingo, 28 de dezembro de 2025

Professor instala calibrador de pneus gratuito no muro de casa e vira referência na comunidade

Equipamento foi inaugurado em novembro no bairro Etelvina Carneiro, em BH, e já atende cerca de 40 usuários por dia nos finais de semana
Um gesto simples, mas de grande impacto, tem chamado a atenção de moradores e condutores que passam pelo bairro Etelvina Carneiro, na região Norte de Belo Horizonte. O professor Luiz Neres Ribeiro, de 59 anos, instalou um calibrador de pneus comunitário no muro da própria residência para uso gratuito da população. O dispositivo, inaugurado em 19 de novembro, está localizado na Rua Ipê Mirim e pode ser utilizado por motoristas e ciclistas sem qualquer cobrança. A procura nos fins de semana e feriados registra média de 40 atendimentos diários.

Luiz relata que a iniciativa surgiu de um antigo desejo de colaborar de forma prática com a vizinhança. Ex-motorista profissional por mais de três décadas, ele conciliou a atividade com a docência até 2023, quando decidiu dedicar-se exclusivamente às salas de aula. “Há muito tempo eu tenho vontade de servir a comunidade com alguma coisa que fosse, de fato, útil. Porque eu acredito que o ser humano não pode vir a este mundo sem deixar para trás uma obra pela qual seja lembrado”, afirmou.
De acordo com o educador, a decisão por instalar um calibrador de pneus está diretamente ligada à rotina de quem circula diariamente pelas vias urbanas e rodovias. “Hoje as pessoas têm carro, moto, bicicleta e dependem muito desse serviço. E os postos passaram a cobrar por isso. Não tenho nada contra, o capitalismo rege essas questões, mas o ar é vital. Se o ar é gratuito, eu resolvi fazê-lo ser, de fato, acessível para quem atualmente precisa pagar por ele”, explicou.

A iniciativa, no entanto, demandou recursos próprios. Segundo Luiz, o valor total gasto entre aquisição de peças e instalação foi de aproximadamente R$ 10 mil. “Eu não sou rico. Isso veio de muito esforço e pesou no orçamento, mas a vontade de servir fala mais alto. Não é um gasto que vai nos deixar pobres, nem miseráveis. Pelo contrário”, disse. Ele acrescentou que a manutenção do equipamento gera custos contínuos, mas garantiu a gratuidade do serviço. “Durante a vida que eu tiver, e depois com meus descendentes, esse calibrador vai continuar funcionando sem cobrar um centavo de ninguém.”

Um projeto antigo que virou serviço público informal
A estrutura não foi montada de forma improvisada. O professor explicou que o planejamento existe há décadas. “Esse projeto tem mais de 25 anos. Quando fiz essa cobertura aqui, já deixei toda a tubulação preparada, como se fosse cano de água, para conduzir o ar do compressor até o muro. É uma ideia antiga que só agora saiu do papel”, relatou.

O apoio também veio do ambiente familiar. A esposa, a professora Sandra Rodrigues, de 58 anos, admite que teve receio no início, mas se surpreendeu com a resposta da comunidade. “Eu fiquei pensando se ia funcionar ou não, mas me surpreendi. As pessoas procuram, ficam satisfeitas e mandam mensagens de parabéns. Um senhor me disse que nunca tinha visto algo assim e que foi muito positivo para a região, porque aqui não há posto de gasolina próximo”, contou.

Uso frequente, impacto concreto e atenção à segurança
Moradores e usuários confirmam os reflexos positivos da iniciativa. O motorista de aplicativo Roberto, que vive nas proximidades, elogiou a ação. “Adorei a ideia do calibrador comunitário, muito bom mesmo. Pretendo voltar mais vezes”, afirmou. Já o morador Caique Mota ressaltou que o investimento do professor aumentou a circulação de pessoas na rua e trouxe uma sensação maior de segurança, apesar do ruído do equipamento ser percebido durante a madrugada.

No muro da residência, duas placas orientam quem faz uso do serviço. Uma identifica o aparelho como “Calibrador de Pneus Comunitário – Oferecimento do Professor Luiz, o homem do calibrador comunitário”. A outra alerta para o uso responsável: “Use com racionalidade. Atenção: estouro de pneu pode ser fatal. Cuidado com excesso de ar no seu equipamento. Ajude a cuidar deste calibrador”.

Atualmente, estabelecimentos do setor cobram, em média, R$ 2 pela calibragem, com tempo restrito de utilização. Segundo a Michelin, referência no segmento de pneus, a recomendação é verificar a pressão ao menos uma vez por mês e sempre antes de viagens. A orientação é consultar o manual do veículo para identificar a medida correta quando o automóvel está carregado, informação que também costuma constar em etiquetas nas portas ou na tampa do tanque.
Satisfeito com o resultado, Luiz afirma que novos projetos estão sendo planejados, sempre com a mesma finalidade. “Eu amo servir. Me sinto valorizado quando alguém me procura para pedir ajuda. Isso mostra que eu tenho algo a oferecer. Se ninguém me procurasse, isso sim seria ruim”, declarou, mantendo em sigilo as próximas iniciativas.

Por Valéria Marques/Hoje em Dia

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