Corolla Cross da PM sofreu batida durante tentativa de arrastão no Paraíso - Imagem: Reprodução
Um grupo de moradores do Paraíso, na zona sul de São Paulo, organizou uma vaquinha entre vizinhos e comerciantes do bairro para pagar o conserto de uma viatura da Polícia Militar envolvida em uma ocorrência na região.O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) afirmou que tem recursos para a conservação da frota e que instaurou sindicância para apurar o caso.
O que aconteceu
Criminosos em fuga atingiram o veículo dos policiais. O Corolla Cross XR 2.0L CVT, do 12º Batalhão da Polícia Militar (Campo Belo), foi atingido na traseira por criminosos em um veículo que deixava a garagem de um prédio na rua Mario Amaral, após uma tentativa frustrada de arrastão em agosto.
Conserto inicial foi avaliado em R$ 39 mil. Segundo orçamento obtido pela reportagem, o preço inicial do conserto ficou em R$ 38.993. O valor, repassado por uma concessionária Toyota de São Caetano, foi enviado a moradores do bairro com pedido de ajuda para antecipar o retorno da viatura ao patrulhamento diário da região.
Imagem: Arte/UOL
Pedido de dinheiro foi feito em nome da "segurança da população". Em mensagens de WhatsApp acessadas pelo UOL, o pedido de "contribuição voluntária" era justificado com a informação de que "o andamento oficial do reparo pelo Estado poderia exigir tempo" e que "a ausência da viatura comprometeria o policiamento do bairro e a segurança da população". A contribuição seria necessária para que o "conserto ocorresse o quanto antes".
Arrecadação foi feita por duas associações de moradores. O dinheiro arrecadado foi depositado nas contas de ao menos duas associações do bairro: a AME Paraíso (Associação Moradores Bairro Paraíso) e a Aprace (Associação Amigos da Praça Curitiba e Entorno). A reportagem apurou que representantes do Conseg Paraíso/Vila Mariana, conselho comunitário de segurança ligado à PM, também participaram da vaquinha. Procurada, a AME Paraíso confirmou a vaquinha. As demais associações não responderam aos questionamentos da reportagem.
Vaquinha recebeu Pix de até R$ 500. Nas mensagens que circularam pelo WhatsApp, moradores enviavam comprovantes de Pix feitos para a vaquinha de R$ 100, R$ 200 ou R$ 500. Segundo a reportagem apurou, o valor foi alcançado rapidamente com a contribuição de comerciantes e por um suposto desconto obtido pela PM no conserto, que teria ficado em cerca de R$ 23 mil.
Imagem: Arte/UOL
Moradores relatam "coação". O pedido de contribuição enviado no grupo de moradores da AME Paraíso e da Aprace gerou reações diversas na vizinhança. Enquanto alguns moradores consideraram importante "acelerar" o conserto da viatura, outros se sentiram coagidos a doar dinheiro, sem a garantia de que o recurso seria de fato utilizado para pagar o serviço. Nenhum deles aceitou dar entrevista.
PM diz ter investido R$ 215 milhões desde 2023
Sindicância da PM vai apurar o caso. Em nota, a Polícia Militar afirmou ter instaurado uma sindicância para apurar as circunstâncias dos fatos e afirmou dispor de recursos próprios para a manutenção de suas viaturas. "Apenas na atual gestão, a PM já investiu mais de R$ 215 milhões na conservação da frota", disse.
Projeto de lei impede policiais de pagar por conserto. Proposta de lei do deputado estadual Altair Moraes (Republicanos) em trâmite na Assembleia Legislativa de São Paulo estabelece que o policial militar não pode ser punido nem obrigado a pagar o conserto de uma viatura envolvida em uma ocorrência, durante o cumprimento de seu dever. O projeto de Moraes está parado desde junho de 2024.
Legislação abre brecha. Segundo Moraes, a iniciativa é necessária porque a legislação não deixa claro se o agente pode ser punido nesses casos. "Muitos policiais acabam atuando com receio de sofrer punição administrativa ou de ter que arcar com prejuízos financeiros, mesmo quando agem corretamente. Isso acaba limitando a atuação policial em momentos críticos", afirma o parlamentar.
"A proposta corrige essa falha ao dar segurança jurídica ao policial, deixando claro que o risco da atividade é do Estado, e não do agente que está na linha de frente, protegendo a população".
Altair Moraes (Republicanos), deputado estadual
Governo não informa quais regras se aplicam a policiais. Questionada, a Secretaria de Segurança do Estado não informou se o policial que se envolve em uma batida em serviço é punido ou mesmo obrigado a custear o conserto.
Uol