domingo, 21 de dezembro de 2025

Cientistas reconhecem nova doença que afeta memória e lucidez dos idosos

krisanapong detraphiphat/Getty Images
Segundo neurologista, uma a cada 5 pessoas com a LATE são diagnosticadas com erroneamente com Alzheimer 
Pesquisas apontam que a LATE afeta mais de 10% das pessoas a partir dos 65 anos
A comunidade médica mudou as diretrizes de diagnóstico e passou a reconhecer a Encefalopatia TDP-43 (LATE) como uma síndrome que afeta 10% das pessoas com mais de 65 anos ou um terço dos idosos acima 

As novas indicações de avaliação apontam que pacientes acometidos pela doença podem sofrer com perdas de memória e sinais de demência. 

O LATE foi reconhecido quando o diretor associado do Centro Sanders-Brown, Pete Nelson, reuniu 35 pesquisadores de Alzheimer de todo o mundo para explorar um novo diagnóstico. 

As análises começaram em 2018 e consideraram dados de autópsias cerebrais e pesquisas anteriores. 

"O que me motivou foi que eu não tinha um diagnóstico para 30% dos meus casos de demência", explica Nelson

Diagnóstico do LATE
Comum em idosos com idade avançada, os médicos suspeitam que muitos diagnósticos de pacientes com LATE foram feitos de forma equivocada.

"Em cerca de uma a cada 5 pessoas que chegam à nossa clínica, o que anteriormente se pensava ser doença de Alzheimer, na verdade, parece ser LATE", explica o neurologista e diretor associado do Centro Sanders-Brown sobre Envelhecimento da Universidade de Kentucky, Greg Jicha. 

O que causa o LATE?
A causa do LATE segue desconhecida, mas o risco aumenta para pacientes que possuem a variante genética Apolipoproteína E4 (APOE4).

Ela também influencia no desenvolvimento do Alzheimer e aumenta as chances de condições vasculares.

Alzheimer e LATE
Para Nelson, o LATE puro é menos grave que o Alzheimer puro. No entanto, a combinação das duas comorbidades faz com que os sintomas avancem de forma mais rápida e agressiva. 

"Você também tende a ter maior probabilidade de apresentar alguns dos sintomas terríveis e assustadores, como psicose e incontinência urinária, entre outros"

Segundo o diretor, metade dos idosos com mais de 85 anos que possuem Alzheimer grave também têm LATE.

Quais as diferenças entre as duas doenças?
Enquanto o Alzheimer afeta a capacidade de planejamento, organização e execução de atividades dos pacientes, o LATE costuma se limitar a perda de memória e dificuldade em encontrar e nomear objetos sintomas também comuns na primeira doença citada. 

As diferenças também são biológicas.

O Alzheimer envolve placas de amiloides e a proteína Tau e o LATE envolve acúmulos anormais da proteína TDP-43. 

Na ocasião, ela foi notada em pacientes com outros distúrbios neurológicos, como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). 

O neurologista responsável pelo Centro de Pesquisa da Doença de Alzheimer na Universidade da Pensilvânia, David Wolk, explica que a TDP-43 está no núcleo de quase todas as células do corpo e atua  na regulação do DNA e RNA. 

Porém, no LATE e em outras doenças semelhantes, ela escapa do núcleo e forma os aglomerados na parte restante da célula. 

Efeitos do LATE no cérebro
A neurologista da Universidade de Harvard, Reisa Sperling, que propôs o nome da síndrome, explica que o hipocampo encolhe mais em pacientes com LATE do que com Alzheimer. 

A área do cérebro é encarregada de formar memórias e aprendizados. 
Portanto, o diagnóstico geralmente envolve imagens cerebrais do hipocampo, testes para patologia de Alzheimer e avaliação se os sintomas cognitivos parecem mais com os do LATE do que do Alzheimer. 

Tratamento para LATE
Pacientes que possuem somente o LATE não podem receber medicamentos de Alzheimer porque não possuem o amiloide que eles atingem. 

O cenário é mais complexo para aqueles são acometidos pelas duas doenças. 
A professora de neurologia e psiquiatria na Escola de Medicina da Universidade de Washington em St. Louis, Nupur Ghoshal, explica que mesmo nesses casos o efeito da medicação pode ser reduzido. 

Isso porque a influência do LATE no amiloide continuaria afetando a absorção do composto.

Impacto do LATE em estudos 
Especialistas em demência afirmaram que o LATE pode ter prejudicado os ensaios de medicamentos anti-amiloide. 

Como os estudos foram feitos antes do reconhecimento da síndrome, é possível que alguns pacientes analisados tivessem a doença e por isso não foram beneficiados pelos medicamentos de forma significativa.

"Talvez pessoas que têm apenas Alzheimer puro realmente respondam bem a esses medicamentos, e isso realmente foi reduzido por casos que têm muito mais dessas outras co-patologias", comenta Wolk.

Primeiro ensaio com medicamentos
Agora, após o reconhecimento da síndrome, o primeiro ensaio clínico para tratamento do LATE é realizado na Universidade de Kentucky.

Ele envolve o nicorandil, medicação aprovada na Europa e Ásia para cuidar de dores no peito causadas por baixo fluxo sanguíneo. 

"É um comprimido para o coração, mas parece funcionar nas anormalidades genéticas que estão ligadas ao LATE", diz Jicha, líder do ensaio.

O estudo terá duração de dois anos e envolve 64 pessoas com problemas leves de memória. 

Eles receberão dois comprimidos por dia, que podem ser placebo ou nicorandil.

Exame

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